Caminhada em defesa das Águas de Capão Xavier 

No dia 03 de abril último, realizamos uma caminhada em defesa dos Mananciais de Abastecimento Público do entorno de Capão Xavier. Foram 10 Kms de caminhada e 05 Kms de carreata, das 8:00 hs às 13:30 hs, da Igreja do Carmo até Jardim Canadá, na BR 040 (Nova Lima), onde a MBR pleiteia explorar a Mina de Capão Xavier. Como nascentes que, pouco a pouco, vão formando mananciais, ribeirões e riachos, a partir das 8:00 hs, as escadarias da Igreja do Carmo não comportaram a quantidade de pessoas que surgiam de todos os lados, com olhares alegres e firmeza no propósito de caminhar na defesa das águas que abastecem 9% da capital mineira. Vestidas de branco, trajando camisetas com inscrições, tais como: “Preservar a água é preservar a vida!” ou “Água é fonte de vida!”, cerca de 1.000 pessoas botaram o pé na estrada, rumo a Capão Xavier, carregando no coração a convicção de que defender os Mananciais de Abastecimento é um imperativo ético para o desenvolvimento sustentável.
Na atual conjuntura, quando se tornou extremamente difícil mobilizar pessoas em defesa dos direitos de cidadania, esse evento representa um enorme sucesso. Era um sábado pela manhã, hora em que a maioria dos mortais prefere a tranqüilidade de um clube, fazer compras ou mesmo curtir a ressaca da noite anterior. A grande adesão à caminhada nos deu a certeza de estarmos bem acompanhados na defesa da bandeira que assumimos nestes últimos meses na região metropolitana de Belo Horizonte.
A luta continua! A nossa bandeira é a defesa de quatro mananciais de abastecimento público de Belo Horizonte: Fechos, Mutuca, Catarina e Barreiro, que estão sob a ameaça da ganância de uma mega-corporação, a mineradora MBR (Minerações Brasileiras Reunidas S/A), que é 85% da Companhia Vale do Rio Doce.
Após a mutilação da Serra do Curral, moldura natural da nossa cidade, após a mineração do Pico do Itabirito, destruindo sua beleza natural e secando nascentes na região, deixando parte da população da cidade de Itabirito sem água, após secar as nascentes que alimentavam as cascatas do Clube Campestre, a MBR afirma dominar agora alta tecnologia capaz de explotar 173 milhões de toneladas de ferro da eventual Mina de Capão Xavier sem comprometer os padrões mínimos de qualidade das águas de classe especial que brotam nos mananciais de Fechos, Catarina, Mutuca e Barreiro.
A maior indignação vem, contudo, da postura assumida pelos órgãos ambientais. Subservientes à mega-corporação concederam as três licenças: Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO) a despeito da ilegalidade e imoralidade do empreendimento naquele local.
Além da marcante Celebração Ecumênica na entrada da Estrada de acesso a Capão Xavier, estrada privativa da MBR, um dos pontos altos da caminhada foi a divulgação da LISTA SUJA DO MOVIMENTO CAPÃO XAVIER VIVO. Um painel de 6 X 4 metros ostentava “entidades” que, direta ou indiretamente, contribuem muito para a degradação ambiental. Encabeça a lista a AMDA – Associação Mineira de “Defesa” do Ambiente, seguida pelo COPAM (Conselho Estadual de Política Ambiental), FEAM (Fundação Estadual do Meio Ambiente COPASA e pela própria MBR. A divulgação da lista suja é significativa porque demonstra que a sociedade acompanha e é crítica quanto à postura das ONGs e dos órgãos colegiados. Passam esses a imagem de estar defendendo a sociedade civil, quando na realidade são reféns dessas mega-corporações. Um bom exemplo disso foi a participação da polícia no evento. Enquanto caminhávamos apoiados por apenas um policial em uma moto e dois de bicicleta, esses últimos deixando a marcha em determinada altura, na entrada da estrada que dá acesso à pretensa mina de Capão Xavier aguardavam-nos 06 (seis) viaturas da Polícia: 03 (três) da polícia militar de Minas Gerais e 03 (três) viaturas da guarda municipal de Nova Lima. No total uns 15 policiais perfilavam-se na entrada do empreendimento para impedir que os manifestantes entrassem no local. Eram servidores públicos, pagos com dinheiro do contribuinte, servindo, sendo usados, para proteger patrimônio privado.
Do mesmo modo como aprendemos em todas as caminhadas que realizamos na vida, haja vista tantos são os livros escritos pelos caminhantes de Santiago de Compostela, aprendemos muito naquela grande marcha do Movimento Capão Xavier Vivo no dia 03 de abril. Muitos dos convidados atenderam ao convite. Outros se desculparam dizendo: “Dormi muito e acordei atrasado.” “Pensei que era em outro dia.” “Concordo e admiro a luta de vocês, mas não fui por medo da MBR.” “Tive que ir fazer compras.” “Tínhamos que ir ao aniversário de um sobrinho”. “Era muito longa a caminhada.” Tantas desculpas nos revelam o aprisionamento do sistema capitalista: as preocupações que se restringem ao próprio umbigo, à própria família, com os “meus afazeres particulares”.
Acordemos antes que seja tarde demais. Quem dorme demais poderá ter o desprazer, de, após levantar, abrir a torneira para lavar o rosto e perceber que a água não corre mais. Àquela altura, os mananciais de abastecimento público foram comprometidos pela fúria mineradora.
Diversas dificuldades, como a falta de recursos financeiros, fizeram com que os planos fossem sendo adequados à nossa realidade. Mas, ao final, valeu a pena! Durante a caminhada, uma grande unidade se construiu a partir de uma grande diversidade. Será inesquecível a lembrança dos estudantes do colégio Arnaldo (e de outros colégios e faculdades), caminhando ao lado de sem terra do MST, de sindicalistas da CUT/MG, de cristãos de várias igrejas, do povo do Morro do Papagaio, jovens e adultos de vários lugares. Caminhamos ao lado de pessoas que nem imaginávamos empunhar a mesma bandeira. Por outro lado tivemos a confirmação e a oportunidade de caminharmos novamente ao lado de tantos que militam nos movimentos populares conosco há tanto tempo e que após a eleição do presidente operário andavam meio desaparecidos, como se de repente não precisássemos mais lutar pelos nossos direitos cidadãos. Parece mesmo que caiu a ficha. Não estamos salvos dos riscos de corrupção de todo o aparato de governo. Não estamos imunes à tentação de darmos um passo em defesa dos nossos ideais além das nossas pernas. Não podemos acreditar cegamente nos nossos representantes, no governo e nas organizações não governamentais, que em muitos momentos são os nossos maiores inimigos. Não podemos dar cheque em branco para muitas entidades que teoricamente dizem defender o interesse público e deveriam fazê-lo, mas, na prática, estão compradas ou cooptadas pelos grandes interesses econômicos, como é o caso da AMDA, e em grande parte, do FEAM e COPAM. É preciso abrir os espaços públicos perdidos, com “mãos à obra”. É preciso urgente que o povo ponha o bloco na rua e assuma a soberania. É preciso lutar pela preservação dos recursos naturais que são direitos de todos. É preciso dar os braços para vencer a arrogância dessas multinacionais que insistem em considerar o Brasil como um protetorado do grande capital! Basta! Outras marchas virão! Um abraço carinhoso a quem caminhou conosco, gritando firme: “MINERAR CAPÃO XAVIER É ILEGAL E IMORAL.” “ÁGUA – FONTE DE VIDA - NÃO SE NEGOCIA!”.
Saudações às comunidades, as cidadãs e os cidadãos que nos confirmaram e nos abençoaram caminhando ao nosso lado! Saudações aos estudantes que não perderam a utopia! Saudações aos artistas que abrilhantaram com sua voz e criatividade a caminhada! Saudações aos políticos que ainda têm coragem de defender com firmeza o bem de todos. Saudações a todos nós que mantemos, a despeito de tantos que perderam a fé, a capacidade de nos indignarmos diante de tantos abusos, tanta injustiça, diante de tanto descaso com o ser humano e com o meio ambiente!!! Enfim, saudações a todos que estão criando uma sociedade sustentável, o que passa, necessariamente, por uma relação no trato com as águas permeada de encantamento, respeito e veneração.

Movimento Capão Xavier VIVO
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